Promovida pelo IDIS, a Pesquisa Doação Brasil é pioneira no estudo sobre a prática da doação individual no aís.
Fortemente influenciada pelo contexto socioeconômico e situações emergenciais, o cenário da doação no Brasil apresenta um novo padrão. A nova edição da Pesquisa Doação Brasil revela práticas de doação mais criteriosas, aumento nos valores doados e maior exigência quanto à transparência de instituições beneficiadas. Em 2024, 78% dos brasileiros acima de 18 anos e com rendimento familiar superior a um salário mínimo fizeram ao menos um tipo de doação, seja de dinheiro, bens ou tempo, na forma de voluntariado.
O levantamento bianual é uma iniciativa do IDIS – Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social e traz um retrato detalhado sobre a percepção e as práticas de doação dos brasileiros. A pesquisa tem como uma das principais frentes de análise o conceito da doação institucional de dinheiro, feita para ONGs, campanhas e/ou projetos socioambientais, e não considera doações de esmola, dízimo ou dinheiro para conhecidos. De acordo com Paula Fabiani, CEO do IDIS, “A Pesquisa Doação Brasil traz dados fundamentais para compreendermos os avanços e os desafios em relação a essa prática, e reforçam a importância de promovermos confiança nas ONGs, além de seguirmos fomentando a cultura de doação no Brasil.” A pesquisa, realizada pela Ipsos a pedido do IDIS, tem abrangência nacional, com representatividade em todas as regiões do país, e foi realizada a partir da coleta online de 1.500 entrevistas. A margem de erro do estudo é de 2,5 pontos percentuais.
O valor estimado do volume de doações, em 2024, foi de R$24,3 bilhões, superior aos R$14,8 bilhões registrados em 2022 e corrigidos aos valores atuais. A mediana das doações individuais anuais passou de R$300 para R$480.
A prática se mostra mais espaçada, acontecendo menos vezes ao ano, porém mais estratégica: a maioria dos doadores afirma escolher com cuidado as causas (86%) e buscar informações antes de doar (83%). Por outro lado, 49% já deixaram de doar após notícias negativas sobre organizações, o que evidencia a importância da confiança como um ativo essencial para o setor. A fidelização também apresentou queda: apenas 49% mantêm o hábito de doar para as mesmas instituições todos os anos – em 2015, eram 69%.
O perfil do doador em 2024 revela um cenário mais equilibrado e qualificado. Homens e mulheres apresentam taxas de doação semelhantes, marcando uma nova equiparação entre os gêneros. A maior incidência está entre adultos de 30 a 49 anos — faixa etária economicamente ativa e estável — e entre pessoas com ensino superior, das quais mais da metade realiza doações (57%). A prática também está mais presente entre indivíduos com renda familiar mais elevada, com destaque para os crescimentos nas faixas entre 4 e 6 salários mínimos e acima de 8 salários mínimos. Geograficamente, as regiões Norte, Centro-Oeste e Sul registraram maiores índices, influenciadas pela ocorrência de situações emergenciais em 2024. O estudo revela também uma mudança no ecossistema de influência: redes comunitárias e religiosas ganham mais espaço, enquanto abordagens tradicionais como ligações ou e-mails perdem efetividade.
Com eventos climáticos extremos de grande magnitude acontecidos no Brasil em 2024, como as enchentes no Rio Grande do Sul, seca na Amazônia e incêndios no Pantanal, a Pesquisa Doação Brasil traz ainda um capítulo especial sobre doações feitas para situações emergenciais. Entre os destaques, está o fato de que metade da população brasileira doou para uma emergência em 2024, com doações mais expressivas do que observado durante a pandemia, o que sugere uma maior disposição para doar em momentos de crise. Foi revelador também o fato de que 60% das doações em dinheiro para estes fins foram destinadas a locais fora do seu próprio estado, demonstrando não apenas solidariedade nacional, mas um instinto profundo de agir, mesmo quando a necessidade está distante de casa.
De acordo com Patricia McIlreavy, CEO do Center for Disaster Philanthropy (CDP), que contribuiu com a pesquisa, “As organizações mais próximas das comunidades afetadas são também as mais capacitadas a oferecer soluções, mas precisam de recursos antes, durante e depois dos desastres.” Como doadores emergenciais tendem também a doar em outras situações, McIlreavy destaca como no Brasil há um grande potencial de engajar o doador emergencial em ações mais estruturantes, que envolvem o enfrentamento às causas das vulnerabilidades e a recuperação de longo prazo.
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